A reportagem “Educar para Viver” do caderno Bem Viver do Jornal Estado de Minas deste domingo, 28 de setembro, trouxe um texto de Carolina Cotta, que aborda os principais desafios dos pais para desenvolver nos filhos habilidades necessários para lidar com as mais diversas situações.

 

EDUCAR PARA A VIDA

Carolina Cotta

       
Desafios, riscos e possibilidades não são realidade exclusiva da educação atual. São marcas do nosso tempo, latentes nos processos socioeconômicos, políticos e culturais, e também no modo como os pais criam seus filhos hoje. Estamos distantes do mundo seguro dos nossos pais e avós. O nosso mundo é de incertezas, dificuldades econômicas e ambientais. E um novo mundo exige de pais e educadores uma outra visão para criar as crianças. Os próprios adultos precisam de reeducar.

Autora de mais de 30 livros sobre relacionamento familiar e desenvolvimento pessoal, Maria Tereza Maldonado aborda o tema em seu título mais recente – Os primeiros anos de vida: pais e ducadores no século 21 (Editora WMF Martins Fontes). Segundo a mestre em psicologia e ex-professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, é preciso desenvolver, ainda na infância, algumas habilidade que serão requeridas no mercado de trabalho: inovação, olhar sistêmico, gestão de crises e de mudança, aceitação da diversidade.

É importante manter a curiosidade natural das crianças. Segundo a especialista, muitas vezes, no decorrer da vida escolar, os erros são criticados e a criatividade acaba desencorajada. Mas o mercado exige, cada vez mais, pessoas criativas e inovadoras e para isso as crianças não podem ter esse medo de errar. “O erro deve ser visto como aprendizagem, parte de um processo de tentativas que vai conduzir ao acerto. Também é preciso desenvolver, desde cedo, a tolerância à frustração, porque muitas coisas não vão dar certo e não podemos desistir”, explica.

As crianças precisam ainda saber olhar para um todo maior para se dar bem em um cenário em que tudo está conectado. Isso pode ser desenvolvido a partir dos primeiros anos, em diferentes situações, mas vai demandar flexibilidade e capacidade de adaptar-se a mudanças. Segundo o especialista, a educação começa dentro do útero. “Estudos de neurociência e neurobiologia dos relacionamentos mostram que a relação da família com o feto é uma verdadeira tecelagem da pessoa. O cérebro é um órgão social e já nascemos com capacidade de nos vincular.”

Um exemplo desse “novo jeito” de educar é a tentativa de alguns pais de desenvolver nos filhos a habilidade para andar em bicicletas sem rodinhas. “Quando não dá certo eles tendem a querer desistir. Nessa hora, é preciso dizer que sabemos que ele sente raiva, mas que aprender é assim mesmo. O mesmo vale no aprendizado de um instrumento ou esporte. Na primeira dificuldade, algumas famílias aceitam a disistência do filho. Mas eles precisam aprender o valor de insistir um pouco, mesmo que exista frutração.”

Do contrário, essas crianças se manterão na lei do desejo, aquela em que se quer tudo agora, embora precisem conhecer a lei da realidade. Afinal, nem sempre as coisas são do jeito que desejamos. Se ela ficar no prazer vai querer apenas brincar. Mas as crianças precisam conhecer limites, disciplina e regulação. Tem hora para o prazer e hora para dever. O importante é que os pais reconheçam o desejo, mas colocando a lei da realidade. O problema é que é algo difícil para os próprios adultos.



LÚDICO A maior preocupação da cenógrafa Bruna Christófaro, de 36 anos, e do arquiteto Ulisses Morato, de 46, na criação de Bernardo, de 3, é que ele viva plenamente a infância. Para isso, buscam ajuda na escola que prioriza o aprendizado por meio do estímulo lúdico e criativo. Parece “solto”, “alternativo”, mas a brincadeira não elimina o conhecimento, nem a disciplina. Ele tem rotina e aprendeu o que deve ser feito a cada momento. É brincando também que ele aprende a dividir com os amigos o brinquedo, esperar sua vez e tratar bem as pessoas, diz Bruna.

Para Maria Tereza Maldonado, essa clássica situação é um bom exemplo de como o que será exigido no futuro pode ser aprendido cedo. “Se duas crianças de 2 ou 3 anos disputam um brinquedo, o pai deve chegar e perguntar quem vai brincar primeiro, como podem combinar para ambos participarem. Isso é gestão de conflitos. A criança vai aprender, logo, que combinados evitam brigas.” No final, tudo pode ser resumido em resiliência. Até mesmo as crianças mais pequenas precisam saber superar obstáculos e enfrentar as dificuldades, mantendo a esperança e o atimismo.

 

 

Ir. Rita Maria de Araújo

Orientadora Educacional

Ensino Fundamental II (6º e 7º Anos)

Pollyanna Andrade

Orientadora Educacional

Ensino Fundamental II (8º e 9º Anos) e Ensino Médio